É tempo de férias. Tempo de recuperar energias, depois de uma exigente primeira metade do ano. A segunda metade promete ainda mais desafios, pelo que o calor do verão português convida a desacelerar para ganhar forças para o resto do ano. É também tempo de balanços, de avaliar o que foi feito, limar arestas e preparar o caminho para o futuro a curto, médio e longo prazo. Com as estrelas do asfalto numa merecida pausa, é tempo para falarmos com o maestro da orquestra.
Com a Speedy Motorsport em tempo de férias, Pedro Salvador fez o balanço da temporada 2024 que, até agora, tem corrido de feição. Numa época que trouxe muitas mudanças e os respetivos desafios, Salvador fez as contas ao que foi feito e mostrou-se satisfeito com os resultados.
A Speedy Motorsport lidera no Campeonato de Portugal de Velocidade / Iberian Supercars na categoria Grande Turismo. A dupla César Machado / Jan Dúran lidera no campeonato absoluto e nos GT4 Pro, prova do bom trabalho desenvolvido pela equipa. Mas houve também bons indicadores nas outras categorias, apesar de menos vistosos.
“O balanço da época até agora é muito positivo” disse PedroSalvador. “Nos GT4 Pro é positivo, pois estamos à frente do campeonato independentemente da última prova não ter corrido como ambicionávamos. Conseguimos minimizar as perdas, mas estamos na liderança e muito motivados para o resto do campeonato.
Nos GT4 Bronze, muito satisfeitos com a evolução do Luís Pedro, que é o mais importante e o nosso grande foco. Muito positivo em ritmo de qualificação e na capacidade de mostrar toda a sua velocidade. No entanto, sabemos que há ainda trabalho a fazer na gestão de corrida e de tudo o que isso implica, com o desafio extra de correr a solo. É um desafio extra a nível físico, a nível de concentração, pois enfrentamos provas com muito calor. As condições não foram particularmente fáceis, mas o Luís Pedro tem correspondido e evoluindo a cada prova.
Nos GT4 AM, infelizmente, na última prova o Miguel [Nabais]e o André [Nabais] tiveram incidentes que nos fizeram sair do Estoril a zeros, o que complica sobre maneira as contas de um título que estava perfeitamente ao alcance. Vamos encarar o resto da época corrida a corrida, mas com a consciência que mais importante que a luta pelo título, é a evolução dos pilotos que certamente têm ambições de chegar a outros voos.
Nos GTX, o Andrius [Zemaitis] é um piloto que conheço muito bem e com quem já trabalhei no passado. Tem uma capacidade enorme de fazer as coisas muito bem-feitas. No ano passado, em particular, teve um ano menos feliz. Este ano regressou e voltou a ser o Cayman mais antigo em pista. Tem feito uma época tranquila e competitiva, mas tem a capacidade de evoluir e andar muito mais depressa, chegando à categoria principal a curto prazo. O balanço é positivo nesse sentido e encaramos o resto da época prova a prova, seguindo a sua vontade de fazer uma época relaxada, mas sempre focados na competitividade” concluiu o chefe de equipa.
A Speedy Motorsport vive para novos desafios e depois de no ano passado ter festejado o título com o BMW M4 GT4, este ano apostou numa máquina diferente. O Toyota GR Supra GT4 EVO tem-se revelado um carro muito competitivo, estando consistentemente no topo da tabela. Pedro Salvador explicou o que motivou a aposta na máquina nipónica e como tem sido a evolução até agora:
“No ano passado apostamos no BMW com sucesso. Nada contra a BMW, mas quando chegou a hora de definir 2024, o plano era encontrar um parceiro que fosse competitivo, uma marca que tivesse uma dedicação e atitude semelhante à que reconhecemos à nossa estrutura.
Desde o primeiro contacto com a Toyota que as conversações foram muito positivas. A Gazoo Racing mostrou logo vontade de disponibilizar um ou dois carros, além de uma disponibilidade total para nos apoiarem na parte técnica. Neste momento o balanço é extremamente positivo. O aparecimento de outro Toyota assistido pela Sports & You permitiu que a marca se associasse ao campeonato de forma ainda mais vincada, com o apoio técnico e logístico. Temos à disposição um pack muito generoso de peças disponível no circuito, num camião da marca, permite encarar cada fim de semana com uma tranquilidade acrescida.
A evolução do carro tem sido natural, com o pouco tempo que temos para testar. Temos progredido muito bem, desde o primeiro teste em Paul Ricard, em que fomos rápidos, tendo como termo de comparação os tempos feitos no europeu. Cada teste tem sido positivo e permitido melhorar. É seguir neste caminho, testando e evoluindo, pois o campeonato ainda é longo”.
O CPV / IS está numa fase estupenda. Com grelhas completas, temos visto quantidade e qualidade em pista, num dos melhores campeonatos dos últimos anos. Aliás, é preciso recuar muito no passado para voltarmos a ver um campeonato com a pujança deste CPV / IS. O caminho feito até aqui é louvável, mas, tratando-se de desporto motorizado, é preciso já pensar no futuro e definir novos objetivos. Pedro Salvador defende algumas mudanças para a próxima época, de forma a aproveitar esta boa fase da competição nacional e ibérica:
“A categorização FIA funciona bem nos campeonatos mundiais, mas nos campeonatos nacionais e regionais deixam algo a desejar. E o campeonato neste momento exige que haja um piloto bronze em cada dupla. Acredito que se o CPV seguir o que se faz no campeonato europeu, e se abrir a possibilidade de haver duplas que não tenham forçosamente um piloto bronze, poderá crescer. Não se prende o campeonato a uma situação algo drástica, dando mais flexibilidade aos pilotos e às equipas para formarem duplas, o que nem sempre é fácil.
Vamos imaginar um miúdo que sai dos karts e quer dar o salto para os GT. É difícil convencer um jovem talentoso a dividir o carro, e por conseguinte as despesas, com um piloto bronze que, por muito dedicado que seja, pode ser mais lento, hipotecando as hipóteses de sucesso, numa fase em que um jovem piloto quer dar nas vistas.
Mais ainda, podemos fazer deste campeonato uma rampa de lançamento de novos talentos para competições internacionais. Imaginemos que o vencedor do título nacional ganha a inscrição para o europeu. Fazemos do CPV, além da competição rainha em Portugal, um degrau importante numa escada que pode levar pilotos a outros voos.
O campeonato europeu está a abarrotar e há pilotos e equipas sem lista de espera. Se o CPV se posicionar como um campeonato alternativo, com a mesma regulamentação, a mesma tipologia de corridas, tudo igual, podemos estar numa posição privilegiada para agarrar pilotos e equipas que querem o europeu, mas ainda não chegaram lá. E isso pode beneficiar todos os envolvidos, desde promotor, equipas e até pilotos nacionais. Tenho a convicção que podemos ter um campeonato de grande relevo a nível europeu”.
Há alguns rumores que dão conta da vontade de alguns pilotos de verem criadas duas grelhas, uma para os GT4 e outra para os GTC / Turismos.Pedro Salvador mostrou-se contra esta ideia, dando mais sugestões para melhorara competição:
“Acredito que não se deve dividir o campeonato em duas grelhas e que os GTC / Turismos e os GT4 devem permanecer na mesma grelha. Acredito que os GTC e os Turismos, só por si não conseguirão manter-se por muito tempo. Integrados nas grelhas do GT4, podem permanecer por mais tempo. Defendo que se deve limitar as inscrições, talvez 10 GTC e 30 GT4. 40 carros em cada corrida é um número elevado”.
Além da competição, Pedro Salvador dá asas à sua paixão pelos carros com a Cartailor, outro projeto que desenvolve a par da sua equipa de competição. O piloto e chefe de equipa falou um pouco sobre esta marca que cada vez mais se destaca no mundo do detalhe automóvel:
“A Cartailor surge como um complemento da paixão pelos carros, há cinco anos, num projeto em parceria. Sou um ‘Petrolhead’ assumido e com a Cartailor tenho mais uma janela para este maravilhoso mundo. A Cartailor não me dá muito trabalho, pois tenho uma equipa fantástica, que faz um trabalho soberbo, à imagem do que acontece na Speedy. Penso que temos já um nome respeitado na área do detalhe automóvel e estamos a fazer o nosso percurso, de forma tranquila e progressiva. Temos novos planos e ideias para o futuro, alguns já começam a ser implementados como os Yellow Rides, passeios organizados por nós para os nossos clientes. Falta tempo para desenvolver outras atividades”.
Quanto à Speedy, de momento, não há planos para diversificação. A equipa cresce e os próximos meses serão de mudança, mas o foco irá manter-se na velocidade, sem planos para regressar ao TT ou aos ralis:
“A Speedy passa por uma fase de transformação, que será materializada no final do ano, com uma mudança de instalações, que irá permitir ter mais soluções para clientes ditos normais e não apenas ligados à competição.
Já fizemos ralis e TT e foram desafios que me agradaram muito. Creio que esses desafios surgiram numa altura diferente, mas foram concluídos com sucesso, pois tivemos bons resultados, apesar de não termos dado continuidade. Mas neste momento essas áreas não estão nos nossos planos.
A Velocidade é o nosso ambiente natural, é super exigente do ponto de vista da equipa e da comparação direta com a concorrência. Creio que não há modalidade mais exigente que a velocidade neste aspeto. Este desafio é algo que nos agrada e não queremos dispersar os meios, perdendo o foco a apostar noutras modalidades. Sendo apologista da qualidade sobre a quantidade, queremos continuar a fazer o que fazemos bem, estando aberto a outras possibilidades no futuro, com o projeto certo, pois a Speedy corre sempre para ser competitiva e para lutar pelos primeiros lugares”.
Pedro Salvador faz este ano 30 anos de carreira como piloto. As obrigações de chefe de equipa da Speedy afastaram-no da competição, mas o plano passa por festejar condignamente a efeméride, em pista. Há já um plano que começa a ser definido para 2025, ano em que a Speedy faz dez anos.
“Há intenção de fazer algo especial. Este ano marca os 30 anos de carreira como piloto, mas coloquei os interesses da Speedy em primeiro lugar, pelo que terei de adiar o festejo dessa efeméride. Mas para o ano, a Speedy faz 10 anos e eu com 30 anos de carreira, gostava de fazer algo especial. Não queria ‘arrumar as botas’ sem assinalar este percurso que tem sido simpático, não só o da Speedy mas também o meu próprio. Gostava de esta rnum campeonato que não coincida com os interesses de outros clientes nossos. Queremos marcar a data, não só na competição, mas com outras iniciativas que temos pensado e que temos planeado que falaremos a seu tempo”.
E daqui por 30 anos? Desafiado a imaginar o seu futuro, Pedro Salvador deixou uma certeza… estará ligado aos automóveis. A paixão fala mais alto e mesmo que, daqui por 30 anos a velocidade seja menor, a paixão pela condução, essa, deverá manter-se:
“Tenho sido um privilegiado por fazer algo que me apaixona e que faço com imenso gosto. Espero daqui a 30 anos que não exija tantos sacrifícios e esforço pessoal, pois esta paixão rouba-me muito tempo que devia ser para a família e para os amigos. Mas trabalhar com automóveis é o que sei e quero fazer. Espero que nessa altura a Speedy exista, tal como a Cartailor, mas que não me ocupe tanto tempo como agora. Espero nessa altura estar ao volante de um roadster a percorrer as nossas belíssimas estradas.
Sei que haverá uma altura em que a competitividade vai descer. Estou consciente que vai acontecer e se calhar já aconteceu em alguma parte. De momento não tenho razões de queixa. Quem me dera aos 76 anos poder fazer corridas e usufruir desta paixão. Acho que tenho um condimento essencial que é a paixão por guiar. As corridas são consequência disso. Mas o que gosto mesmo é de conduzir, sou um apaixonado por automóveis. O prazer de conduzir existe nos mais diversos momentos e não implica um circuito. Tenho tanto gozo em conduzir um clássico, um ou GT3 de última geração. Por isso daqui por 30 anos, se me virem ao volante de um bom carro, certamente que me verão feliz.”
Balanço feito, resta aproveitar o resto das férias. A“rentrée” está à porta e o regresso da competição aproxima-se. O foco nas vitórias mantém-se inalterado. O próximo destino é Valência que recebe a quarta jornada do Iberian Supercars, agendada para os dias 28 e 29 de setembro.